Cenas da Vida Conjugal - O Teatro


Vi na 5ª feira, no teatro D. Maria a peça Cenas da Vida Conjugal (Scener ur ett äktenskap, 1973) baseada numa mini-série de Ingmar Bergman que depois transformou em filme.
A peça é um duro ensaio sobre a natureza do romance e os meandros da vida a dois. Até onde deve ir a sinceridade? O que deve e não deve ser levado a sério? A paixão é um estado constante ou esmorece com a rotina? E o tempo deve ou não ser reinventando a cada instante?
O modo de encarar as relações humanas causou polémica na década de 70, mesmo numa sociedade sueca dita progressiva.
A humilhação de quem se subjuga na relação contrasta com o desprendimento ou mesmo desprezo de quem está mais fora do que dentro. Mas os estados de espírito não são uma constante. A dúvida sobre a natureza da relação, sobre até onde se deve ir, o modo como cada interveniente vê o romance e se vê a si mesmo também evolui com o tempo e com a vida.
E todas as acções têm consequências: na vida e em nós mesmos.

A peça é muitíssimo bem interpretada, por Margarida Marinho e Adriano Luz nos papéis de Mariana e João. É uma boa peça: embora não seja a melhor peça que vi, o texto está muito bem escrito e vai directo a detalhes que só reconhecemos como anormais quando olhamos para eles de fora: “Há gente pior que nós” é a saída clássica para desculpabilizar algo que não está bem, mas que se pretende perfeito: na ânsia da perfeição extrema, perde-se a oportunidade de viver o “bom”, de construir o “muito bom” e de sonhar saudavelmente com o “excelente”.

Fiquei com grande curiosidade pela série e/ou pelo filme: a primeira dura 300 mins (6x50) enquanto que o segundo, extraído quase de seguida da série, foi cortado para 170 mins.
Não é que eu vá passar a consumir séries a martelo: esta tem apenas 6 episódios (e não em 150 temporadas para fazer “render o peixe”) e é uma série de culto. Como outra que adoro, aliás: Reviver o Passado em Brideshead (Brideshead Revisited, 1981).

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