Mr. Nobody



Sr. Ninguém (Mr. Nobody, 2009) é um filme estranho, fascinante, belo e despretensioso.
É considerado já um filme de culto num género que nem sei bem definir: Ficção Científica? Fantasia? Romance? Drama?
Revisitando alguns outros filmes recentes, Mr. Nobody trouxe-me à memória alguns clássicos modernos: O Grande Peixe (Big Fish, 2003) no que respeita ao uso da cor, da luz e da fotografia mas também do modo de, revivendo o passado, questionar a sua veracidade; O Estranho Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, 2008) no modo como uma história de amor que atravessa os tempos é contada, vivida e questionada; Matrix (Matrix, 1999) pela forma como toda a realidade em que nos movemos e na qual acreditamos existir é posta em causa.

Nemo tem 114 anos e é o último ser humano mortal na Terra. Estamos no ano de 2092 e Nemo mal se recorda em que termos a sua vida passou pela realidade. Na actualidade (futuro), ele é a estrela de um programa televisivo tipo Big Brother, no qual a população espera para assistir à última morte de um ser humano por causas naturais.
Mr. Nobody mostra um olhar fresco sobre a realidade e abre possibilidades arrojadas a respeito do modo de interpretar/viver o espaço-tempo em que nos movemos:

E se o tempo deixar de se deslocar por uma estrada de sentido único mas puder regredir?
E se possuirmos memórias do futuro?
E se a vida não for uma linha única do passado para o futuro, mas, tal como a hipótese do gato de Schrodinger, em cada decisão que tomamos, todas as hipóteses são reais até constatarmos o seu resultado?
E se, entre as consequências alternativas que resultam das diferentes opções que tomamos, constatarmos que há pontos de contacto entre elas? Isto é, não sendo mutuamente exclusivas, podemos chegar ao ponto de vivermos uma vida de um outro Eu que somos nós?

Embora o assunto de realidades alternativas esteja já bastante batido, Mr. Nobody, para além de trazer muito mais do que essa questão (esse é apenas um dos aspectos da história), mostra-a de um ângulo diferente, de uma forma mais rica, traz algo de novo – o suporte científico e o mérito de conseguir ligar o romance, a ciência, a vida e uma forma diferente de olhar e questionar a realidade, não sendo nenhum destes aspectos marginalizado pelos outros.
Neste filme, a montagem e o argumento têm uma importância redobrada: pela complexidade do tema, pelo número de ingredientes que se pretende introduzir na história, e pelo modo como se pretende tornar uma história que não é linear nem no espaço nem no tempo, perceptível ao mesmo tempo que interessantemente elaborada.

E nem o desenlace (que não vou contar) desilude, quando bem podia correr mal (como muitas vezes acontece quando uma história promete muito e é contada em “crescendo”). Não se espere nada de muito exotérico para o final de um filme que vale por si mesmo.
Mr. Nobody é uma grande experiência cinematográfica.

Um filme de 2009 que só agora acabou de estrear em Portugal. Embora eu o tenha visto em casa, Mr. Nobody é uma experiência que acredito valer muito a pena em cinema.

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