Amour



Do que vi até agora do L&EFF 2012, se o The Master é bom, Amour é mais uma obra maior de Michael Haneke.
Depois de O Laço Branco (Das Weisse Band, 2009), Haneke volta a ganhar a Palma de Ouro em Cannes com esta mostra da vida (ou da sua degradação?) de um casal na casa dos 80, o que resta das pessoas que foram, do sucesso que tiveram e da filha que deixaram.
O modo de encarar a vida a dois na velhice e como o Amor que uniu (e une) aqueles dois seres é o motivo para se lidar com a degradação da própria vida. E o que é que fica passados os anos "gloriosos" da vida? Estaremos de facto condenados a partir de um modo tão vil, degradante, humilhante? E não é apenas a doença, mas a cansaço que a vida em si mesma acarreta. Fará sentido viver para terminar assim? É esse o sentido da vida?
Haneke é o realizador mais perfeccionista que conheço (e só vi 3 filmes dele) e Amour não é excepção: tudo é pensado e filmado com a preocupação a manifestar-se em cada detalhe. O cenário e os muitos momentos de silêncios são o expoente do realismo, porque a sua câmara mostra a realidade com uma crueza que arrepia, tal a falta de dramatismo cinematográfico a que o mainstream nos habituou. E esta tristeza tão real é tão intima que reconhecemos de imediato traços da nossa própria realidade.
Emannuelle Riva e Jean-Louis Trintignant (e mesmo Isabelle Huppert) são geniais, com a expressividade a alternar com a apatia de uma fase da vida que se desprende da condição humana.
E se o filme é um murro no estômago, há várias cenas em que a forma e conteúdo competem lado a lado na hierarquia: simbolismo e significado a complementarem-se. Duas dessas cenas são particularmente notáveis, o que se notou pela reacção da audiência. Não é fácil causar estas sensações num filme tão (enganadoramente) calmo.
Amour é um dos melhores filmes que vi em cinema no último ano e a prova de que Haneke entrou definitivamente para a galeria dos grandes realizadores da actualidade (se dúvidas houvesse)

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