Barbara


Mais um ciclo de cinema, desta vez a “Mostra de Cinema de Expressão Alemã”.
Nunca havia visto o Cinema São Jorge cheio e, para além de ser uma das poucas salas de Lisboa que mantém o “espírito do antigamente” (um pouco de nostalgia).
A mostra, pela apresentação, contém pela primeira vez no programa um ciclo de homenagem a alguns clássicos do cinema alemão (finalmente vou ver um filme do Fassbinder), mas nesta sessão de abertura passou uma ante-estreia: Barbara (Barbara, 2012).

Não fui tanto por qualquer feeling de que o filme pudesse valer a pena (embora o facto de ter Nina Hoss como actriz principal me dava alguma segurança) mas para ver o que se faz de cinema alemão actualmente. E confesso que o filme me surpreendeu: o modo como os metódicos alemães olham e tratam uma história que tem muito de sentimental foi, neste filme, muito interessante.
Tudo acontece em 1980, ano dos Jogos Olímpicos de Moscovo (a única indicação temporal do filme) e no auge da Guerra-Fria : Barbara, uma médica, não cooperante com o regime da ex-RDA, é enviada para um pequeno hospital de província como castigo pelas suas actividades clandestinas.
Ao mesmo tempo que a sua humanidade se vai revelando no desempenho da profissão, a desconfiança funciona como um bloqueio que não lhe permite desenvolver relações saudáveis com os que a rodeiam. A constante vigilância das autoridades (com incursões na sua casa mais ou menos violentas) e a manutenção da sua colaboração com os oposicionistas vão alimentando esta desconfiança, bem como a sua crescente vontade em fugir para a Europa ocidental.
Embora trazendo algumas surpresas, o filme conta uma história simples. Pela apresentação feita antes do filme, soube que o realizador Christian Petzold, tinha mais como intenção contar uma história sobre a desconfiança do que sobre a ex-RDA. Na minha opinião conseguiu-o. O filme passa a barreira do simplesmente “simpático” para entrar na galeria das obras de qualidade. É uma obra estranhamente calma, onde a mensagem de esperança está presente em toda a história e a sincera bondade dos protagonistas é a lição que sobressai de uma realidade antagónica, onde a calma da província contrastam com o ambiente persecutório em que Barbara se move.

O filme foi a quarta colaboração entre Petzold e Hoss (eu só conhecia Yella (Yella, 2007), mas um outro filme, Jericó (Jerichow, 2008) havia-me chamado a atenção há uns meses quando esteve em cartaz – acabei por não o ver na altura e obviamente que o irei ver agora, com a curiosidade que este filme me suscitou). O facto de ter ganho o Urso de Prata para Melhor Realização no Festival de Berlim é mais uma prova do seu valor.

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