Os Amantes de Ponte Nova


Começo a tornar-me fã de Juliette Binoche… só havia visto dois filmes em que era protagonista (O Paciente Inglês (The English Patient, 1996) a Azul (Trois Coloeurs: Bleu, 1993)). Mas com Encontro (Rendez-Vous, 1985), um dos seus primeiros filmes e sobretudo Os Amantes de Ponte Nova (Les Amants du Pont-Neuf, 1991), rendi-me.
Os Amantes de Ponte Nova é um filme maravilhoso: consegue a proeza de congregar o aspecto artístico na construção de uma obra de arte, e o aspecto humano na construção da história. E nenhum ofusca o outro mas complementam-se. E se há muito trabalho por trás deste filme, seja na montagem dos cenários, na coreografia ou no trabalho dos intérpretes, em parte, é um filme que resulta porque teve sorte… teve a sorte de o todo ser (ainda) melhor do que a soma das partes.
Leos Carax tentou aproveitar as obras da Ponte Nova em 1991, em Paris, para filmar a história de dois vagabundos que vivem na ponte, enquanto esta está vedada ao trânsito e a peões. Mas atrasos nas filmagens levou a que as obras seguissem o seu curso e tivesse que ser construído um modelo da ponte à escala fora de Paris (com todo o cenário envolvente) tornando Os Amantes de Ponte Nova num dos filmes franceses mais caros à data.
Mas tal permitiu uma liberdade de filmagem que poderia ser difícil de conseguir na “ponte mais antiga de Paris”. O filme conta a história de amor entre dois sem-abrigo, Alex e Michèle que vivem na Pont-Neuf. Michèle, uma artista caída em desgraça devido a um desgosto de amor e a uma doença que lhe vai progressivamente roubando a visão, impedindo-a de trabalhar, conhece Alex, um sem abrigo que vive alternando entre o álcool e ampolas para dormir, adormecido para a vida…

“Rápido, preciso de uma ampola (…) A rapariga vai dormir e eu ficarei sozinho.”

… é uma frase genial: este pedido a Hans, o outro sem-abrigo habitante de Pont-Neuf, resume a vida de Alex a o início da sua entrega a Michèle.
Aproveitando as celebrações dos 200 anos da capital Paris, Leos Carax oferece uma visão da cidade tão bela quanto “anti-turistico-plastificado” (como fez Woody Allen em Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011) por exemplo. Ao contrário de Woody Allen, Carax conhece bem Paris e não pretende mostrar meia-dúzia de postais para qualquer um engolir: cingindo-se a três ou quatro locais (onde a Ponte Nova tem "o" tempo de antena por excelência, mas também as galerias do metro de Paris têm um lugar de destaque), a beleza da cidade é-nos apresentada despida de floreados, e ainda assim, consegue captar toda sua a beleza (a verdadeira beleza apresenta-se de noite, sem maquilhagem…).

Um exemplo do nível artístico que este filme consegue atingir (e que mostra que quando falo em “artístico” não falo em nada de muito esotérico, apenas ao alcance da sobranceria de alguns) é esta sequência:



Esta obra entrou definitivamente para a galeria dos filmes especiais. Muito especiais.

Comentários

Ofélia Queirós disse…
Olá António,
A Binoche é uma das melhores actrizes da actualidade. Mesmo quando faz um filme em Hollywood consegue dar-lhe um ar europeu, de vida real.
Há muito pouco tempo vi um filme francês recente que adorei (deve ser de 2011 ou 2012). Ela é jornalista e está a fazer uma reportagem (sobre o quê não te digo) ao mesmo tempo que tem de viver e assumir as responsabilidades de mãe, esposa e pessoa equilibrada.
Acho também que ela é lindissima e natural. Bate qualquer Jolie o Aniston. Mas isto já é a voz vernácula feminina a falar! Beijinhos
António V. Dias disse…
É mesmo uma grande actriz (e possuidora de uma beleza fantástica - e fora do comum).
Tenho que procurar esse filme :)
Neste ("Os Amantes de Ponte Nova"), já não me surpreendeu... tornou-se numa certeza :)

Beijinhos