The Sweet Hereafter


Há filmes que nos dão esperança.
Há filmes que parecem contar tudo o que têm para contar à velocidade que querem, e conseguem-no.
Há filmes que tratam de assuntos sérios sem esconder que todas as acções podem ser vistas em perspectiva.

O Futuro Radioso (The Sweet Hereafter, 1997) é um desses filmes. Descobri-o há pouco tempo quando procurava filmes canadianos para “fabricar” uma prenda para uma amiga: foi um filme que me escapou.
A história é tão simples que realça o mérito de terem conseguido fazer deste material um filme notável: o impacto que um acidente de um autocarro escolar tem numa pequena comunidade canadiana.
Mas, se é um filme dramático, não nos explora até à exaustão lacrimejante ao ponto de darmos por nós a chorar por chorar (e até com algum prazer… afinal, é dó um filme). Nada disso: The Sweet Hereafter mostra-nos as diferentes faces de uma comunidade que, como todas as comunidades, é feita de pessoas com coisas boas e coisas más. Mas, por mais que tenhamos vontade de ver retratado no cinema (ou na literatura) personagens com qualidades e defeitos demasiado vincados (onde muitas vezes as qualidades e os defeitos não se intersectam numa mesma pessoa), é difícil resistir a essa tendência e mostrar as pessoas comuns como… pessoas comuns... com defeitos, qualidades, boas acções e más acções.
Quando uma tragédia acontece nas suas vidas, por muito que a ilusão de que antes tudo estava bem teime em romper a névoa do sofrimento, cada pessoa transporta consigo as experiências que viveu. E há acontecimentos capazes de mudar vidas… curiosamente, há tragédias capazes de “corrigir” situações, umas mais assustadoras, outras menos, e outras que são mais ou menos erradas porque nos dizem que é suposto assim ser. A tragédia veio testar a verdade desse conceito “comunidade”. E tal só foi provocado pela visita de um estranho, aparentemente com poucos escrúpulos, mas com os fantasmas da sua vida bem presentes, como toda a gente nesta história.
Porque é assim este filme… como a vida, desenrola-se à velocidade que deve ser… umas vezes mais rápida, outras mais lenta, umas vezes rápida demais (à velocidade de um poderoso instante), outras estende-se… num pronuncio de sofrimento.
Mas algo muito simples é possível tirar daqui: nada fica como antes. Uma experiência como esta deixa marcas, mas pode também funcionar como um catalisador que permite aos actores desta história relativizarem (perante a brutalidade de tal tragédia) e, ora de uma forma mais consciente ora deixando-se guiar pelo precipitar dos acontecimentos, endireitarem, de alguma forma, as suas vidas.

PS: Até o título vale por si mesmo tal a força da mensagem que transmite (pessoalmente, e sem pretensiosismo, acho que fica mais bonito em inglês).

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