Zero Dark Thirty (Óscares - Parte III)


Não tinha grande vontade de ver este filme, tanto por não ter muita curiosidade pela história, como por não ter gostado muito de outros filmes de Kathryn Bigelow (como Estado de Guerra (The Hurt Locker, 2008) e Estranhos Prazeres (Strange Days, 1995)). Ruptura Explosiva (Point Break, 1991) foi uma excepção, mas eu era puto: se o visse hoje, creio que não mereceria o crédito que lhe dei.
Acontece que 00:30 A Hora Negra (Zero Dark Thirty, 2012) tem uma razão que se eleva perante todas as outras no que toca à decisão de merecer a pena arriscar: Jessica Chastain. Estou cada vez mais certo de que é a melhor actriz da nova geração e Zero Dark Thirty vem, mais uma vez, prová-lo.
O papel de Jessica Chastain como Maya, a agente da CIA que empreendeu uma longa e paciente busca para encontrar (e eliminar) Bin Laden, não sendo vistoso, é de uma “sobriedade grandiosa”. Pelo menos a sensação que me causou, enquanto via o filme, foi em crescendo, tendo chegado ao fim a admirar esta mulher (tenha ela existido ou não) e a actriz que a compôs (este ano, por sinal, as três melhor actrizes desta nova vaga estão nomeadas… as outras são Jennifer Lawrence e Amy Adams).

Outro grande (enorme) aspecto em que este filme se destaca é a sua arte narrativa: o desenrolar da história acontece perante os nossos olhos ao longo de mais de duas horas e meia de filme e não damos por isso. E não foi necessário utilizar demasiados (e por vezes escusado) momentos de suspense para manter atento o espectador: a veracidade da história e a seriedade com que foi contada foram mais do que suficientes. Neste aspecto, deve ter sido o filme mais bem conseguido que vi este ano.
Para isto contribuiu a realização segura, penso que é a palavra que melhor a descreve, de Kathryn Bigelow: deixou sobressair a história e os seus intérpretes, sabendo os momentos em que tinha que intervir (sobretudo na fantástica sequência final, onde o assalto à casa onde Bin Laden se escondia é um grande momento de cinema).
A humildade do argumento salvou o filme de cair na glorificação americana e como esta história ganhou com isso! Pelo contrário, o filme expõe os métodos da CIA para extrair informações sem medos, mas também sem gratuitidade: apenas o que é (como aliás já sabíamos que era).

Muito bom mesmo: Zero Dark Thirty é daqueles filmes que merece ser revisto. Eu não arriscaria ainda em classificá-lo como “Cinema de Autor” mas Kathryn Bigelow (pese eu não ser um grande fã), possui um mérito indiscutível: elevar-se entre os melhores num mundo estranhamente reservado aos homens (curioso como se contam pelos dedos de uma mão as grandes realizadoras da história do cinema). Este filme, embora dificilmente vá ganhar o Óscar de melhor filme (ela não ganha de certeza o de melhor realizadora - não está nomeada), merece um reconhecimento maior do que as nomeações.

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