O Profundo Mar Azul



Quando vi este filme, não sabia que era um remake.
Há algum tempo que tenho grande curiosidade por conhecer a obra do britânico Terence Davies. Como Kubrick ou Malick, Davies realizou poucos filmes em muitos anos.
Calhou ser este O Profundo Mar Azul (The Deep Blue Sea, 2011), a adaptação de uma peça de Terence Rattigan (um conhecido dramaturgo inglês de quem eu nunca tinha ouvido falar) escrita no início da década de 50.
O filme é de uma genialidade que para muitos será sinónimo de aborrecimento.

A sinopse pode ser altamente enganadora: uma mulher casada com um homem mais velho, juiz e “Sir” apaixona-se perdidamente por um jovem e fogoso ex-piloto da força aérea britânica. Mas de uma relação carente de desejo sexual, ela parte para outra onde a posse e o desespero alicerçados no seu desejo não a deixam viver uma relação saudável. Perdida entre estas duas formas de se relacionar, entre estes dois mundos, entre o “Diabo e o Profundo Mar Azul”, Hester vai, ora sobrevivendo, ora desesperando.
Nenhum dos dois homens da sua vida consegue dar-lhe o que deseja, nem ela consegue ser feliz com qualquer um deles: por um sente uma atracção doentia que quase a leva à loucura; pelo outro sente um carinho que corajosamente assume não ser amor, ou pelo menos o que ela pensa que é o amor.
A belíssima Rachel Weisz tem uma actuação fora de série (a melhor que vi dela até hoje) e todo o filme é uma obra-prima, no retrato decadente que faz daquele microcosmos londrino nos anos do pós-guerra, na nostalgia que imprime a cada cenário, luz ou guarda-roupa.
A natureza humana é levada ao limite, num ensaio tão perfeito sobre almas perdidas tentando sobreviver em corpos humanos. Um estudo sobre as múltiplas nuances que as relações humanas comportam, chamando-lhe amor, paixão, desespero, paixão, companheirismo, … e a desorientação que a insegurança provoca conduzindo, por vezes, a um estado de alienação que muitos não suportam… nem quem por ele passa nem quem com ele convive.

O Profundo Mar Azul só agora chegou ao cinema em Portugal (em Inglaterra foi lançado em 2011 mas nos Estados Unidos só estreou em 2012). Vi-o em casa, sem grande expectativa: apenas curiosidade pelo trabalho de Weisz e de Davies.
Fiquei tão agradado com esta obra (marcado será exagero) que fiquei com uma curiosidade reforçada pelo cinema de Davies. Cinema de Autor, é certo, mas quando a expectativa começa a deixar de ter peso na apreciação final de uma obra, o valor de qualquer rótulo ou preconceituoso aproxima-se da indiferença.
Um filme muitíssimo bem feito, que vai passar (quase) despercebido no cinema (não só em Portugal). É pena pois é um filme de uma beleza extraordinária.

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