Idi i smotri (Come and See)


Voltei ao cinema soviético, no caso, um filme de 1985 sobre a II Guerra Mundial: Come and See (Idi i smotri). Foi um pouco “às escuras” que, numa pesquisa sobre filmes da II Guerra que fiz há tempos, cheguei a este filme. Ontem vi-o, finalmente, e surpreendeu-me pela violência, e por rever uma certa forma de fazer cinema (de autor), mais presente nos anos 80, que não sei se sei descrever com exactidão. O simbolismo no cinema nem sempre é fácil de digerir. É até para mim muito heterogéneo pois há filmes cuja força das imagens é fortemente simbólica e que eu adoro (2001, Odisseia no Espaço (2001, A Space Odyssey, 1968), por exemplo) e outros que eu detesto (Surrealismo de Fellini…). Come and See (não sei que título lhe atribuíram em Portugal, se é que estreou por cá) é um filme que, não entrando no Cinema de Autor “puro e duro” consegue através das imagens e (talvez sobretudo) dos efeitos sonoros, simbolizar de uma forma bem realista o horror absurdo da guerra. 

A história de uma criança que procura uma arma entre cadáveres perdidos no meio nos destroços para poder alistar-se e combater no exército russo (só eram aceites voluntários que possuíssem armas) é contada como que uma viagem directamente da inocência da infância para a desumanidade de uma geração adulta destruída. O jovem, cedo (no filme) parece ter muito mais idade do que a que tem na realidade, e as experiências por que passa vão-lhe roubando, progressivamente, as franjas de humanidade que possuía enquanto criança. Passado na Bielorrússia em 1943, este filme é um misto entre os acontecimentos reais relatados em Resistentes (Defiance, 2008), a perda de inocência reflectido em A Balada do Soldado (Ballada o Soldate (1959) e o absurdo da Guerra num sentido mais lato, retratado por Francis Ford Coppola em Apocalypse Now (Apocalypse Now, 1979). 

É um grande filme, cuja minha primeira impressão perante as primeiras reacções e interpretações dos personagens considerei de patéticas mas, ao manter firme a minha intenção em ver o filme até ao fim, acabei por simplesmente aceitar duas coisas: que os russos são muito diferentes de nós, com aquele ar quase que de bêbedos permanentes, com atitudes ora exageradas ora infantis, para os nossos padrões; e que numa situação limite em que as pessoas eram torturadas, queimadas vivas (como aconteceu em mais de 600 aldeias da Bielorrússia, num episódio cujo horror é magnificamente retratado no filme) e obrigadas a apelar aos seus instintos mais primários, uma reacção patética é o menor dos males. Um grande filme, mais um, da ex-União Soviética.

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