A Trégua


Título igual ao de um outro livro, eventualmente mais conhecido na Europa (da autoria de Primo Levi), A Trégua de Mario Benedetti decorre em Montevideo, em 1959.

Escrito sob a forma de diário, esta história de amor (intemporal, como todas) exprime as angústias e receios de Martin Santomé, 49 anos, na primeira pessoas quando, no momento em que já nada espera da vida e apenas conta os dias para a reforma, se apaixona por Laura Avellaneda, 24 anos.
Actor numa vida desiludida, Santomé é viúvo há 20 anos, tem um trabalho de que não gosta numa empresa de contabilidade, tem relações mais ou menos difíceis com cada um dos três filhos, vai satisfazendo as necessidades sexuais com um ou outro encontro ocasional, mas já nada espera da vida (a não ser a reforma).

Quando Laura entra para o escritório onde trabalha, Martin não se enamora logo, mas a convivência e a solidão concorrem para os aproximar.
A partir daqui, são as preocupações de Martin que acompanhamos (tudo é relatado do seu ponto de vista): a idade e a diferença de idades, o futuro da relação, a preocupação em ser deixado, etc... mas tudo de uma forma muito "lúcido-pessimista", porque neste caso, o seu pessimismo é muito lúcido, as suas preocupações antecipadas muito lógicas, as suas vidas muito diferentes.
Mas tal não impede que entre eles se estabeleça uma relação, e que esta história de amor seja uma bonita reflexão sobre a vida, o amor, a desilusão e sobre a forma de estarmos sempre a tempo de que algo aconteça na nossa vida, sem o esperarmos, desde que não fechemos as portas.

Não posso desvendar muito mais sob pena de estragar a leitura.
Uma nota para referir que, e espero nada estragar com esta revelação, Laura escreveu um poema a Martin, o qual foi publicado 36 anos depois, em 1995, no livro El Amor, las Mujeres y la Vida de Mario Benedetti. A ler obrigatoriamente a quem leu A Trégua, obrigatoriamente só depois de ler A Trégua.

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